O eufemismo, como ele é:



Vivemos num mundo de eufemismos e termos politicamente correctos. O nosso receio de ferir a susceptibilidade alheia é tanto que, por vezes, acabamos por esvaziar as nossas declarações de expressividade e, em certos momentos, de conteúdo.

Assim, deixamos de dizer gordo para dizer obeso e uma estaca, ou pau-de-virar-tripas, é agora esguio.

Os carecas são deficientes capilares, os paneleiros são homossexuais, os malucos são excêntricos, os bêbados são alcoólicos, os drogados são toxicodependentes e o desgraçado que dorme na rua é um enjeitado.

Os países pobres são países em vias de desenvolvimento e os seus habitantes são pessoas de escassos recursos.

O ladrão de boas famílias e cleptómano e o roubo de fundos públicos por políticos chama-se enriquecimento ilícito ou peculato.

Na escola, os burros passaram a ter dificuldades de aprendizagem, os mais inteligentes passaram a ser super dotados e aos que, por dificuldades económicas, têm de ir trabalhar a meio do ano lectivo chamamos abandono escolar.

O capitalismo é economia de mercado, o imperialismo é globalização e o despedimento indiscriminado é flexibilização do mercado de trabalho.

Os pretos são negros, os brancos são caucasianos e os ciganos passaram a ter etnia.

Os militares que morrem em combate são baixas, os civis são danos colaterais e as bombas são agora engenhos explosivos.

As pessoas deixaram de morrer de cancro passando a falecer vítimas de doença prolongada e quando se diz “doença repentina” deve ler-se enfarte de miocárdio.

As mulheres deixaram de fazer abortos e desmanchos para passarem a praticar interrupções voluntárias da gravidez.

Os condutores deixaram de conduzir bêbados e passaram a circular com uma taxa de álcool no sangue superior a 0,5g/l, enquanto os crimes que, nesse estado, praticam ao volante se chamam acidentes.

Eufemismos … como eles são!

Posted by JooGoo
sexta-feira, março 16, 2007
 

2 Comments:

  1. toma lá Fresquinho said...
    excelente reparo!

    pessoalmente e salvo raras excepções chamo as coisas pelo nome ... e já fui recriminado!
    M&S said...
    Subtilezas do preconceito...

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